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Reprodução em cativeiro salva aves ameaçadas de extinção

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Reprodução em cativeiro salva aves ameaçadas de extinção
James Simpson e Roberto Azeredo

A criação e reprodução em cativeiro tem sido um caminho eficaz para salvar espécies ameaçadas da extinção. Prova disso é o trabalho desenvolvido pela Crax Sociedade e Pesquisa da Fauna Silvestre, entidade civil sem fins lucrativos registrada no Ibama como criadouro científico. Roberto Azeredo, fundador e presidente da Crax, esteve na primeira Terça Ambiental deste ano, que ocorreu no último dia 26, e compartilhou resultados esperançosos.

Desde 1979 o mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) é considerado extinto na natureza. Mas esse cenário pode mudar ainda neste ano com a reintrodução de aves nascidas na Crax. Em 1999 a organização recebeu 21 exemplares dos 43 últimos animais mantidos em cativeiro. Atualmente, a Crax possui 150 exemplares, além dos 32 mutuns transferidos a outros criadores e do casal enviado para um viveiro em Maceió. Segundo Azeredo, a meta da Crax é atingir 50 casais reprodutores produtivos para segurança da espécie.

Outro caso de sucesso é o mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii), também conhecido como mutum-do-bico-vermelho, espécie que consolidou o trabalho da organização e inspirou seu nome – Crax. A ave chegou a ser considerada extinta em Minas Gerais e Rio de Janeiro e é classificada como Criticamente Ameaçada na Lista Oficial Brasileira e Ameaçada pela IUCN.

Azeredo começou a fazer observações da espécie em campo em 1975. Entre 78 e 79 foram capturados os primeiros casais em uma região degradada na Bahia. Sem informações disponíveis sobre como proceder com o manejo, cativeiro e reprodução dos animais, ele começou um intenso trabalho de pesquisa para entender as características da espécie, como alimentação, idade reprodutiva, seleção dos casais reprodutores, período de reprodução e incubação, quantidade de ovos por ninhada, manejo dos casais reprodutores e ovos, incubação artificial (tempo de incubação, temperatura, umidade), técnicas de manejo de jovens, anilhamento. Neste último ponto, Azeredo ressaltou a importância de alimentar o plantel com diferentes linhagens, garantindo a qualidade genética e aumentando as chances de continuidade da espécie. Em 1981 ocorreu a primeira reprodução do mutum-do-sudeste na Crax.

A organização possui quatro projetos para reintrodução da ave. O mutum foi reintroduzido em três regiões mineiras e uma carioca, em áreas de Mata Atlântica, e de lá tem se dispersado para regiões vizinhas. Até hoje, a Crax reintroduziu 392 mutuns-do-sudeste e registrou 171 nascimentos até 2018. Em todas as experiências de reintrodução foram registradas perdas, principalmente nos primeiros meses após a soltura. As perdas ocorreram por predação natural ou cães domésticos, brigas entre indivíduos no viveiro de aclimatação e caça.

De acordo com Azeredo, mil aves já nasceram na Crax. A organização é responsável pela reintrodução na natureza de 13 espécies: jacutinga (Aburria jacutinga), Inhambu-guaçu (Crypturellus obsoletus), Jacuaçú (Penelope obscura bronzina), Sururina (Crypturellus soui), Mutum-do-Sudeste (Crax blumenbachii), Jacupemba (Penelope superciliaris), Canário-da-terra (Sicalis flaveola), Inhambú-chororó (Crypturellus parvirostris), Macuco (Tinamus solitarius), Capoeira (Odontophorus capueira), Jaó-do-Sul (Crypturellus noctivagus n.), Mutum-de-penacho (Crax fasciolata f.) e Juriti (Leptotila verreauxi).