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Fogo e desmatamento deixam floresta Amazônica vulnerável a tempestades

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Fogo e desmatamento deixam floresta Amazônica vulnerável a tempestades

Estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) indicou que partes da Amazônia, degradadas pelo fogo e desmatamento, estão mais vulneráveis às chuvas de vento. Naturais da floresta, os temporais estão cada vez mais fortes e frequentes, afetando principalmente árvores de grande porte.

De acordo com o levantamento, a interação entre as perturbações (fogo, chuvas, secas etc) está mudando nas florestas tropicais em resposta ao clima e ao uso da terra, interferindo diretamente na vegetação. Para testar a hipótese, os cientistas analisaram a reação de três fragmentos da floresta amazônica, vizinhos de áreas agrícolas, a uma tempestade de aproximadamente 30 minutos. Um dos fragmentos nunca havia sido exposto ao fogo, um era queimado anualmente e o outro sofria com incêndios de três em três anos.

O resultado foi que o vento extirpou galhos, quebrou e arrancou diversas árvores do solo. O impacto foi maior sobre as espécies de maior porte, inseridas nas extremidades da floresta e que já sofreram com o fogo. Na porção queimada anualmente, 13% das árvores foram danificadas; na incendiada a cada três anos, 17% sofreram danos; enquanto na região intocada pelo fogo, apenas 8% das árvores foram prejudicadas.

Ao analisar as três regiões quatro anos após o grande temporal, os pesquisadores ainda descobriram que cerca de 85% das árvores situadas nas porções queimadas morreram, contra uma baixa de 57% na região sem ocorrência de incêndios. O maior número de mortes na região incendiada se deve ao fato de os incêndios florestais prejudicarem a estabilidade dos troncos, deixando as árvores mais frágeis. Quando combinado com o desmatamento, o fogo se torna ainda mais danoso.

De acordo com o líder do trabalho, Divino Silvério, o fogo tende a matar preferencialmente as árvores menores, deixando para trás as de grande porte, justamente as que ficam mais expostas aos ventos intensos. Uma vez que a maior parte do carbono das florestas está estocada nas árvores grandes, as mais vulneráveis aos ventos, grande parte da biomassa também é perdida.

As coberturas de dossel – conjunto de copas de árvores que formam o estrato superior das florestas – também perdem seu volume com o fogo, desprotegendo as demais árvores do vento. Reduções na densidade dos espécimes ainda diminuem a capacidade de sustentação e ancoragem das árvores, aumentando as chances de desenraizamento.

Por sua vez, o desmatamento interfere diretamente na circulação do vento, intensificando seu impacto sobre as árvores da borda. Além disso, grandes árvores expostas ao longo de bordas florestais criadas recentemente têm poucas adaptações para resistir a ventos fortes.

A tendência desenhada pelo estudo é que a degradação das florestas tropicais seja cada vez maior, afinal, as grandes tempestades estão se intensificando na mesma proporção das mudanças climáticas. “Dado que os danos causados pelo vento foram mais altos em áreas previamente queimadas e em árvores com cicatrizes de fogo, a degradação florestal também pode ser intensificada por mudanças no clima por meio de secas que promovem incêndios de alta intensidade”, alertou o levantamento.

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