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Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo

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Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo

O Greenpeace realizou testes toxicológicos em alimentos comuns da dieta dos brasileiros com intuito de alertar sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil. O país é o maior consumidor mundial. Cerca de 70% dos alimentos in natura consumidos por brasileiros estão contaminados.

Cento e treze quilos de alimentos foram coletados em comércios de Brasília e São Paulo. Foram analisados: café, mamão, tomate, couve, pimentão verde, laranja, banana, arroz branco e integral, feijão-preto e carioca. Entre as amostras, 60% continham resíduos de agrotóxicos e 36% tinham algum tipo de irregularidade, como a presença de compostos proibidos ou quantidades não permitidas.

No tradicional mamão formoso foram encontradas substâncias proibidas no Brasil e outras com quantidades acima do limite. Na laranja foram identificados cinco agrotóxicos diferentes e em níveis acima do autorizado. Substâncias proibidas também foram verificadas na banana, no café e no arroz. No tomate, foram registrados quatro tipos diferentes de resíduos, incluindo um agrotóxico proibido para cultivar a variedade.

O pimentão verde foi campeão no número de agrotóxicos. Foram encontrados sete resíduos, parte deles proibidos para o alimento. Com a couve não foi diferente: foram encontradas três diferentes substâncias em uma mesma amostra e diversas substâncias não permitidas para a cultura.

Segundo a pesquisa, o risco de misturar vários agrotóxicos é o chamado efeito coquetel, no qual a possibilidade de interação entre os produtos pode gerar efeitos desconhecidos. Dos 23 agrotóxicos encontrados, 10 estão proibidos em, pelo menos, uma destas quatro regiões: Austrália, Canadá, Estados Unidos e Europa.

Em 2016, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa detectou que alguns alimentos, devido à contaminação por agrotóxicos, poderiam levar à intoxicação imediata. Cerca de 12% das amostras de laranjas, 5% dos abacaxis e 2% das uvas e couves analisadas poderiam causar intoxicação alimentar logo após o consumo. Em 2013, foram consumidos 16 quilos de agrotóxico por hectare plantado, o que equivale a seis quilos por pessoa.

Além dos efeitos nocivos à saúde humana, o uso de agrotóxicos pode causar efeitos devastadores na natureza. De acordo com o Greenpeace, essas substâncias são a segunda maior causa de contaminação das águas do Brasil. Já foram identificados em peixes e em amostras de águas 27 tipos de agrotóxicos, muitos dos quais em quantidades acima do permitido.

Outro alarmante exemplo é o caso das abelhas. A pesquisa mostra que o uso de agrotóxicos reduz a população dos insetos que polinizam 73% dos vegetais cultivados no mundo. Além disso, a organização cita os impactos referentes à atividade agropecuária de maneira geral. Para produzir áreas de cultivo, grandes extensões são desmatadas e queimadas, o que contribui para o agravamento do efeito estufa.

Pacote do veneno

O Greenpeace alertou também para a liberação recente do Benzoato de Emamectina, substância extremamente tóxica proibida pela Anvisa desde 2010 por suspeita de provocar malformações e elevados danos ao sistema nervoso. Mas parece que essas informações não são mais relevantes.

Enquanto o histórico brasileiro aponta para o mínimo de 10 anos para proibição de compostos, o Benzoato foi liberado em um mês. Sua consulta pública durou 30 dias e rendeu só oito contribuições. Em comparação, a consulta referente ao Carbofurano ocorreu por 60 dias e recebeu mais de 13 mil contribuições.

Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 6299/02, de autoria do atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que propõe retirar o Ministério do Meio Ambiente e a Anvisa do processo de aprovação dos agrotóxicos, deixando a decisão somente para o Ministério da Agricultura. O projeto já foi aprovado pelo Senado.

“Se esse pacote for aprovado, vão transformar o país em um mar de veneno. Ele muda uma série de regras, causa uma série de retrocessos na lei. Um deles é que ele pretende mudar o nome de agrotóxicos para defensivos fitossanitários, o que é bastante grave, porque isso mascara a nocividade dessas substâncias”, avalia Marina Lacôrte, especialista do Greenpeace em agricultura e alimentação.

Na contramão, aguarda aprovação da Câmara o PL 6670/16, que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pnara). O projeto visa essencialmente reduzir o uso de agrotóxicos e estimular a agricultura agroecológica. Segundo a ONU, a agroecologia pode aumentar a produtividade agrícola e a segurança alimentar, melhorar a renda de agricultores familiares e conter a perda de biodiversidade gerada pela agricultura industrial. De acordo com o Greenpeace, “a agroecologia é um modelo de produção de alimentos que respeita os processos naturais de um ecossistema, para evitar impactos na natureza e na vida”.

Relembre a Informação Ambiental publicada pela Amda sobre um aplicativo que identifica feiras de alimentos orgânicos mais próximas ao usuário!