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Falta de recursos ameaça pesquisa climática na Amazônia

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Falta de recursos ameaça pesquisa climática na Amazônia
Crédito: divulgação

Há dois anos, Brasil e Alemanha se uniram para construir uma mega torre no coração da Amazônia para entender o papel da região no clima do planeta e os efeitos das mudanças climáticas no funcionamento da floresta. O acordo de colaboração prevê investimentos igualitários dos dois países, mas o Brasil já enfrenta dificuldades para honrar seus compromissos.

Com 325 metros de altura, o Observatório da Torre Alta da Amazônia (Atto, em inglês) foi erguido dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã. O investimento foi de R$ 26 milhões, divididos igualmente entre os dois países. O Brasil entrou com R$ 13 milhões pagos pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do governo federal, mais um aporte de R$ 2 milhões da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado (Fapeam) para abrir a estrada de terra que liga a base ao rio Uatumã.

Inaugurada em agosto de 2015, somente este ano a torre começou a coletar dados de forma sistemática. Aparelhos conectados à torre monitoram continuamente uma série de parâmetros relacionados à formação de nuvens, fluxo de gases, radiação solar, cobertura foliar, dispersão de partículas e vários outros fatores que influenciam a interação entre clima e floresta.

A Alemanha já tem cerca de R$ 50 milhões reservados para estudos nos próximos três anos, incluindo recursos do Ministério da Educação e Pesquisa (BMBF) e do Instituto Max-Planck. O projeto tem uma sobra de R$ 5,8 milhões do aporte inicial da Finep, mas esses recursos são reservados para infraestrutura e compra de equipamentos, e não podem ser usados para bolsas ou financiamento de pesquisas.

Do lado brasileiro, por enquanto, nada. “É como se a gente tivesse comprado um ônibus, mas não tem dinheiro para comprar gasolina”, diz o pesquisador Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Ele é um dos únicos cientistas brasileiros com instrumentos já conectados à Torre Alta – comprados com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que também financia suas pesquisas.

Os alemães também estão preocupados. “Temos dinheiro agora, mas não dá para continuar muito tempo assim”, pontuou Susan Trumbore, diretora do Instituto Max-Planck de Biogeoquímica e coordenadora da participação alemã no Atto. “Não temos intenção de fazer isso sozinhos, de jeito nenhum. Sem a parceria brasileira, não vai funcionar”, afirmou.

De acordo com reportagem do Estadão, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações informou que a manutenção do Atto custa R$ 1 milhão por ano e que “vai liberar esses recursos assim que os valores descontingenciados (do orçamento ministerial) estiverem disponíveis”. “Para o ano de 2018, a verba também está garantida”, completou a pasta.

Sobre as pesquisas, o ministério afirmou que “garante os valores necessários para os projetos de cientistas brasileiros, quando houver (recursos)”.