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Setembro registra maior número de incêndios florestais da história do Brasil

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Setembro registra maior número de incêndios florestais da história do Brasil
Crédito: divulgação/Aliança em Prol da APA Pedra Branca

Desde os primeiros registros do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), datados de 1998, o Brasil nunca registrou tantas queimadas em apenas um mês. Em setembro de 2016 foram mais de 44 mil. Neste ano, o índice quase triplicou, contabilizando mais de 110 mil focos. Estima-se que 2017 bata o recorde de incêndios florestais. Até agora foram mais de 212 mil.

Uma das diversas unidades de conservação destruídas pelo fogo em Minas Gerais neste ano é a Reserva Biológica da Pedra Branca, em Caldas. A Rebio, de 120 mil hectares, ardeu por 14 dias seguidos em setembro. De acordo com o presidente da Aliança em Prol da Área de Preservação Ambiental (APA) da Pedra Branca, Daniel Tygel, esta foi a maior queimada em cerca de 60 anos.

Para Tygel, o incêndio foi criminoso. “Já vivemos estiagens piores que esta em 2013 e 2014 e não houve incêndios. As pessoas que frequentam a área da reserva são as mesmas de anos atrás, o que reduz a possibilidade de ser um comportamento imprudente”, comentou.

Moradores da região, bombeiros, brigadistas das mineradoras locais e funcionários da prefeitura de Caldas e de Santa Rita de Caldas se revezaram no combate às chamas. De acordo com o ambientalista, entre 40 a 50 voluntários participaram do combate, entre eles, os índios Quiriris. Contando com os profissionais, somaram-se em média 60 a 80 pessoas envolvidas, sendo três funcionários da prefeitura de Santa Rita de Caldas e por volta de 10 da prefeitura de Caldas. “O pessoal realizou um bom trabalho, levando em conta que era uma área de difícil acesso, serra fechada, uma mata muito vertical e com muitas pedras”, relatou Tygel.

“Os funcionários das prefeituras que atuaram no combate estavam bem engajados, mas faltaram mais funcionários monitorando para prevenir outros incêndios e alastramento do fogo ao longo dos dias. Isso foi fruto de um descaso e abandono da reserva”, comentou. Para Tygel, ainda faltam medidas para proteção da área, como a regulamentação da lei que cria a Área de Preservação Ambiental (APA) da Pedra Branca, além de um controle de entrada e saída de visitantes na reserva.

Perda incalculável

Tygel ressaltou a importância ambiental da reserva, uma área de Mata Atlântica que abriga rica biodiversidade, incluindo espécies endêmicas – que só ocorrem naquela região – e pelo menos 10 espécies da flora ameaçadas de extinção. Uma delas é endêmica e pode ter sido extinta pelo incêndio.

A Phlegmariurus Regnelli é uma espécie de samambaia. No ano passado, pesquisadores estiveram na reserva e encontraram apenas 50 exemplares. As chamas devastaram quase 90% da área de ocorrência da espécie, o que aumenta o risco de extinção da samambaia.

De acordo com o Centro Nacional de Conservação da Flora, a exploração de recursos minerais reduz a área de ocorrência da samambaia, colocando-a em risco iminente. No município de Caldas, onde há registros da planta, restam menos de 10% de vegetação nativa. Suspeita-se que houve uma redução populacional maior que 80% das espécies originárias da serra nos últimos seis anos.

Em 22 de setembro, a Aliança em Prol da APA da Pedra Branca solicitou à Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas a elaboração de laudo técnico acerca dos impactos causados pelo incêndio, tanto em relação ao tamanho da área destruída, como à biodiversidade. A organização também pediu uma “lista das espécies da flora mais afetadas, incluindo árvores que possam eventualmente ser plantadas posteriormente, assim como recomendações para a recuperação da área”. O Jardim Botânico iniciou os trabalhos na reserva no início deste mês.