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Políticos partem em defesa do meio ambiente na tentativa de ganhar votos em outubro

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Na briga para causar boa impressão ao eleitorado brasileiro, políticos elegeram o meio ambiente. A evidência do tema na mídia com os debates urgentes sobre as mudanças climáticas inspirou candidatos, que – mesmo sem intimidade com o assunto – resolveram aderir ao verde. A dificuldade dos marqueteiros de políticos, de qualquer legenda, é medir de uma maneira mais ou menos precisa o quanto o debate sobre o meio ambiente interfere positivamente na decisão do eleitor no momento do voto.
"A estratégia está sendo bem adotada por políticos. A questão ambiental é o filão do momento, apesar de ser mero pano de fundo na corrida eleitoral", afirma o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas. É como se, por mero instinto, os políticos saibam que não precisam de um discurso verde autêntico para levar uma eleição.
Apesar de causar boa impressão – isso nenhum marqueteiro duvida -, o especialista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Charles Peçanha acredita que o tema ainda não é decisivo na hora de escolher o candidato. "O meio ambiente ganhou relevância nos discursos nas últimas eleições, mas a consciência política dos eleitores ainda está muito voltada para temas ligados à economia e às questões sociais, como saúde e educação", argumenta Peçanha.
A entrada da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PV-AC) na disputa presidencial desencadeou no governo uma corrida por uma agenda ambiental para evitar que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata à sucessão de Lula, perca terreno. A estreia da mais nova ambientalista do PT foi internacional. Ela liderou as discussões brasileiras na Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (COP 15), em dezembro de 2009, e anunciou metas de redução de gases de efeito estufa. Apesar do empenho de Dilma, a falta de sintonia com o tema fez a ministra cometer uma gafe durante um evento sobre a Amazônia, quando disse que "o meio ambiente é, sem dúvida, uma ameaça para o desenvolvimento sustentável".
O adversário tucano de Dilma, o governador de São Paulo, José Serra, é outro que volta a atenção para o meio ambiente. Em resposta ao governo Lula, Serra lançou compromisso com o enfrentamento às mudanças climáticas e divulgou na COP 15 a proposta de reduzir até 2020 em 20% a emissão de gases de efeito estufa no estado, demonstrando que a agenda ambiental não ficará restrita a Marina Silva e à própria Dilma.
Outro que terá de buscar uma identidade de candidato é o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR). Na briga por uma das duas cadeiras no Senado Federal, ele tem o desafio de manter o jogo de cintura para agradar ambientalistas e ruralistas. Conhecido como um dos maiores produtores de soja do mundo e responsável por colocar o estado no ranking das potências econômicas brasileiras ele tem se empenhado em assumir o discurso conciliatório com os defensores do meio ambiente.
Polêmico por manter altos índices de desmatamento na sua região – que faz parte da Amazônia Legal -, o político de experiência empresarial conseguiu reverter o jogo este ano. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Mato Grosso foi o estado que mais contribuiu para o índice de redução do desmatamento na floresta entre agosto de 2008 e julho de 2009: 65%. Resultado que rendeu elogios até o do ministro Carlos Minc, durante a cerimônia de divulgação dos números em Brasília, ocorrido em novembro. A contribuição com a conservação das áreas nativas não deixou de levar o estado mais uma vez ao topo da liderança em produção de soja.
"Ele (Blairo Maggi) não fez um movimento voluntário para mudar. Às vezes demonstra uma oscilação no discurso, mas é natural até porque ele é político eleito pelo agronegócio, mas precisa ter cuidado porque essa mudança não agrada a todo o setor", avalia o coordenador do Instituto Ambiental de Pesquisa da Amazônia (Ipam), André Lima. Por enquanto, a estratégia vem dando resultado. Na última pesquisa Vox Populi, divulgada dia 23, o político matogrossense apareceu na liderança, com 47% das intenções de voto. Larga folga em relação ao segundo candidato, que foi escolhido por penas 16% dos eleitores.
"Apesar de o estado ser um grande produtor de grãos, a maioria dos eleitores é composta de gente comum, que não é fazendeira. Ele só vem adotando uma tendência verde que hoje toma conta dos discursos dos demais pré-canditados para se adequar à situação do momento. Todo bom político sabe mudar na hora que convém", afirma o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer.
Preservação
A Amazônia Legal corresponde a 5.217.423 km² – 61% do território brasileiro – e reúne nove estados pertencentes à Bacia amazônica (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão). Para promover o desenvolvimento nessas regiões, consideradas pelo governo federal como de problemas econômicos e sociais semelhantes, foi instituída uma lei em 1966 criando o conceito de Amazônia Legal. Dois terços das fronteiras geográficas do país estão na área, que tem como principais atividades a agropecuária e o extrativismo.
Cartilha fajuta
O que um candidato precisa fazer para se camuflar de político verde:

• Usar expressões como %u201Cfloresta de pé%u201D e %u201Cmitigação%u201D de danos ambientais
• Dizer que incentiva a redução de poluentes nos setores da economia
• Prometer que vai adotar práticas menos agressivas ao meio ambiente
• Jurar que defende o lema de desenvolvimento econômico sustentável
• Apoiar o uso de energias limpas, como a eólica e a solar
• Defender o uso de biocombustíveis, mas ao mesmo tempo%u2026
• %u2026 dizer-se preocupado com o desmatamento para produção de cana
• Evitar falar que "o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento"

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