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Viadutos vegetados: estruturas verdes começam a crescer no Brasil

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Viadutos vegetados: estruturas verdes começam a crescer no Brasil
Primeiro viaduto vegetado do Brasil foi construído sobre a BR-101

A inauguração do mais novo viaduto vegetado para fauna do Brasil, construído no Rio de Janeiro para conectar as populações do mico-leão-dourado, abriu caminho para que novas estruturas sejam instaladas no país. Apesar de pioneiras em território nacional, países como Holanda e Canadá colecionam travessias de fauna, mostrando a importância dessas infraestruturas para a proteção da biodiversidade.

Os viadutos vegetados surgiram como uma alternativa para minimizar os danos causados pela retirada da cobertura vegetal decorrente da construção de rodovias e ferrovias. As vias formam verdadeiras barreiras entre os animais que, antes da ação humana, viviam em um mesmo espaço.

Ao conectar fragmentos florestais, a infraestrutura reduz a barreira criada pelas estradas e permite o trânsito seguro das espécies. Além de minimizar os riscos de atropelamentos, o viaduto ajuda a manter o equilíbrio ecológico e a variabilidade genética das populações, pois estimula o fluxo e a reprodução entre famílias diferentes.

As construções são, basicamente, pontes de travessia para a vida selvagem. Sua função primária, “é restabelecer a conexão entre os ambientes dos dois lados da rodovia ou ferrovia e aumentar a possibilidade de travessias seguras, sobretudo para animais que de outra forma evitariam cruzar a via”, informou o biólogo e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Andreas Kindel.

Acredita-se que os primeiros viadutos vegetados tenham sido construídos por volta dos anos 1950, na França, incentivando mais países da Europa de outras partes do mundo. O Canadá é referência no assunto. Apenas no Parque Nacional Banff, são mais de 40 passagens para a fauna, sendo seis viadutos vegetados e 38 passagens subterrâneas.

Além das travessias, a rodovia que corta a unidade de conservação possui 82 quilômetros de cercas, que evitam mais de 80% dos atropelamentos de animais. Na Holanda, 30 viadutos vegetados já foram construídos e mais 20 estão previstos para os próximos anos.

Viadutos no Brasil

No Brasil, o estado que iniciou o movimento de construção de viadutos vegetados foi o Pará. Em 2017, o estado ergueu uma travessia para a fauna acima da ferrovia que corta a Floresta Nacional de Carajás.

A construção foi uma contrapartida de um projeto minerário operado no local. Segundo o Ibama, outras 30 passagens, entre viadutos e túneis, foram instaladas ao longo dos 100 quilômetros do ramal. Já existem registros do trânsito de capivaras, tatus, jaguatiricas, tamanduás-bandeira, cachorros do mato, cutias, iguanas e gatos-mouriscos.

Em São Paulo, foi construída a segunda passagem de fauna do Brasil, sobre a rodovia dos Tamoios, via que atravessa o Parque Estadual da Serra do Mar. As obras foram finalizadas em 2018 como condicionante à duplicação da estrada. Além da passarela, foram construídas sete passagens subterrâneas, que passam por baixo da pista.

O último viaduto vegetado do país, fica na BR-101, no município de Silva Jardim, entre a Reserva Biológica de Poço das Antas e o Parque Estadual dos Três Picos. A construção serve para unir dois fragmentos de Mata Atlântica que abrigam populações isoladas do mico-leão-dourado, primata ameaçado de extinção e endêmico do estado.

O viaduto foi coberto com mudas de plantas nativas da Mata Atlântica e os micos devem se sentir mais confortáveis para fazer a travessia à medida que a vegetação cresce. Um segundo viaduto também está previsto no processo de licenciamento ambiental para a duplicação da via.

Atropelamentos

Todos os anos, milhões de animais perdem suas vidas nas estradas brasileiras, o que faz do atropelamento uma das ameaças mais expressivas à fauna silvestre no país. O Sistema Urubu, desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), estima que 1,3 milhão de animais são atropelados por dia no Brasil.

Apenas a região sudeste é responsável por 56% dos atropelamentos de todo o país. Os mamíferos são os mais afetados, seguidos por aves, répteis e anfíbios. Para reverter esse cenário, um projeto de lei propõe a adoção de medidas para garantir a circulação segura da fauna silvestre em todo território nacional.

O PL 466/2015, de autoria do deputado federal Ricardo Izar (PP/SP), propõe implantação de medidas que auxiliem a travessia da fauna silvestre, como instalação de sinalização e redutores de velocidade, passagens aéreas ou subterrâneas, passarelas, pontes, cercas e refletores.

Uma petição online foi criada em apoio ao projeto, que está parado devido à pandemia. O texto da campanha enfatiza que a aprovação da matéria criará uma legislação específica, a nível nacional, que contribuirá de modo decisivo para redução dos impactos de estradas, rodovias e ferrovias à biodiversidade brasileira.

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