Espécie da vez

Nova espécie de louva-a-deus recebe nome que homenageia Museu Nacional

Nova espécie de louva-a-deus recebe nome que homenageia Museu Nacional
Crédito: Projeto Mantis/divulgação

Prestes a ser consumida pelo incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 2018, pesquisadores salvaram espécie de louva-a-deus do anonimato e catalogaram primeiro representante do gênero Vates da Mata Atlântica. A descoberta foi publicada no periódico científico European Journal of Taxonomy.

Foi no ano de 2016 que a espécie de louva-a-deus foi avistada pela primeira vez, pelos biólogos Leonardo Lanna, João Felipe e Herculano, durante expedição no município de Valença, no interior do Rio de Janeiro.

Quando os biólogos do projeto Mantis – de pesquisa e conservação dos louva-a-deus – viram que se tratava de uma espécie não catalogada, recorreram imediatamente ao acervo do Museu Nacional. Na coleção da entidade, eles encontraram mais exemplares que poderiam pertencer à nova espécie.

Na época, eles também solicitaram apoio do peruano Julio Rivera, referência mundial no estudo dos louva-a-deus, que se juntou aos biólogos na pesquisa que embasou à catalogação do inseto.

Em 2017, eles viajaram com a National Geographic à procura de indivíduos semelhantes ou de novas espécies desconhecidas pela ciência. Foi quando encontraram machos vivos do louva-a-deus na Reserva Ecológica de Guapiaçu, em Cachoeiras de Macacu (RJ).

Diante da descoberta eminente, os pesquisadores retiraram do Museu Nacional uma caixa contendo 13 louva-a-deus do gênero Vates. O objetivo deles era analisar e comparar os exemplares, mal sabendo que, aquele ato, salvaria os animais do fogo que consumiu mais de 5 milhões de insetos da coleção entomológica da instituição.

Em 2018, mesmo ano em que o museu pegou fogo, uma fêmea da espécie foi encontrada, completando as informações que faltavam para a catalogação do táxon. A coincidência inspirou os pesquisadores a batizarem a espécie de Vates phoenix, uma forma de homenagear o Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Phoenix significa fênix, um pássaro da mitologia grega que ao morrer entrava em combustão e depois ressurgia das próprias cinzas. “Não queríamos um nome muito óbvio. Queríamos simbolizar essa espécie como o renascimento da coleção de louva-a-deus do Museu Nacional”, explicou o biólogo Leonardo Lanna.

A espécie

A nova espécie é única entre seus congêneres, encontrados principalmente na Amazônia. Restrito às florestas do Rio de Janeiro e São Paulo, Vates phoenix é o primeiro representante de seu gênero a ser encontrado na Mata Atlântica.

Agora ele faz parte da lista de 250 espécies de louva-a-deus encontradas no Brasil, país com a maior variedade do inseto no mundo. Acredita-se que exista aproximadamente 500 tipos de louva-a-deus no território brasileiro, mas a dificuldade de encontrá-los – por não emitirem som, cheiro, nem refletirem luz – faz com que a maioria permaneça no anonimato.

O animal, que ainda não possui nome popular, têm sido chamado de louva-a-deus “unicórnio”, assim como os demais integrantes do gênero Vates, devido as suas características morfológicas peculiares.

O apelido faz referência ao “chifre” que possuem na cabeça, que na verdade é uma projeção alongada de seu exoesqueleto. Nas espécies amazônicas essa protuberância é mais evidente, enquanto no Vates phoenix o relevo é bem discreto e quase imperceptível.

Segundo o projeto Mantis, este é um louva-a-deus belíssimo que possui uma pequena coroa (na cabeça) e uma camuflagem, entre folhas verdes e ramos de árvore, que o torna quase invisível nas florestas.

Na espécie, a diferença entre os sexos é bem nítida, de modo que as fêmeas têm asas verdes e transparentes, enquanto as dos machos são totalmente translúcidas. Outra diferença está nas antenas, que nos machos são mais robustas para facilitar a captação dos ferônimos (hormônios sexuais) das fêmeas. Em relação ao tamanho, elas são cerca de 0,5 centímetros maiores.

Sabe-se que a espécie habita o que restou da Mata Atlântica no Rio e em São Paulo, mas há poucas informações sobre as áreas onde o animal vive no bioma. Os machos encontrados foram atraídos por armadilhas de luz e a única fêmea passava ao acaso, claramente deslocada de seu ambiente, quando os biólogos a observaram.

Os pesquisadores supõem que essa espécie de louva-a-deus tenha preferência pelas copas das árvores, mas nada é comprovado, de forma que seu habitat e comportamento na natureza ainda são um mistério.

“Apesar de ser um bioma severamente ameaçado e ter perdido mais de 85% de sua cobertura original, organismos endêmicos desconhecidos pela ciência ainda vagam pela Mata Atlântica do sul do Brasil”, destacaram os pesquisadores.

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