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Espécie da vez

João-de-barro: o pássaro construtor

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João-de-barro: o pássaro construtor
Crédito: Google imagens

Medindo até 20 centímetros e pesando somente 49 gramas, o pequeno joão-de-barro (Furnarius rufus) pode ser facilmente observado em seu habitat. Além de não se afastar muito de seu território, a ave não é nem um pouco arisca e tem um canto bastante peculiar, que lembra uma gargalhada estridente. Ele passa boa parte do tempo no solo, caminhando de modo típico, alternando pequenas corridas com intervalos nos quais anda mais devagar.

O joão-de-barro é conhecido como pássaro construtor. Apesar de pequeno, ele constroi ninhos de barro de até quatro quilos. O casal divide tarefas e se reveza na construção, que pode levar de 18 dias a um mês, dependendo da abundância de barro. A ave utiliza como matéria-prima barro úmido, esterco e palha, cujas proporções dependem do tipo de solo – se arenoso, a quantidade de esterco chega a ser maior do que a de terra, por exemplo.

Seu ninho é construído em formato de forno de carvão. Em seu interior, há uma parede que separa a entrada e a câmara incubadora, erguida para diminuir as correntes de ar e o acesso de possíveis predadores. A fêmea põe de três a quatro ovos, a partir de setembro, e a incubação acontece de 14 a 18 dias. Os filhotes são alimentados por um período de 23 a 26 dias. Depois, estão prontos para voar e partir.

O mesmo ninho não é utilizado por duas estações seguidas por um mesmo casal. O joão-de-barro parece fazer um rodízio entre dois ou três ninhos diferentes, reparando aqueles que estão semidestruídos. Quando não há mais espaço para a construção de novos ninhos, o pássaro o constrói em cima (até 11) ou ao lado do velho. Uma vez abandonados, os ninhos podem ser reutilizados por outras aves, como canário-da-terra-verdadeiro, tuim, pardal e andorinhas; e também por outros animais, como lagartixas, rãs, pequenas cobras, ratos silvestres e até abelhas.

Lenda

Há várias lendas sobre a espécie e, a mais famosa, virou tema de uma canção. Conta a lenda que João era um homem muito bondoso e fazia casas com barro e capim, cuidando sempre para fazê-las na posição correta: viradas para o nascer do Sol. Ele não cobrava nada para construir casas. Depois de muitos anos, Deus achou melhor ele descansar ao seu lado. Todos entraram em prantos pela morte de João. Para consolá-los, Deus criou o “joão-de-barro”, fazendo sua casa de barro e capim, sempre virada para o nascer do Sol.

Um dia, ele brigou com Tapera (andorinha), que chegou a dominá-lo e despejou-o do ninho ainda em construção. A fêmea ajudou a erguer o ninho, mas parece não ter sido constante, abandonando o macho. O joão-de-barro é fiel até o fim e, por isso, quando percebeu que a companheira mudou de amor, tampou a abertura da casa, fechando-a para sempre.

No folclore brasileiro, conta a lenda que em uma tribo do sul do Brasil, o jovem Jaebé se apaixonou por uma moça de grande beleza e foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou quais provas de força Jaebé poderia dar para se casar com a moça mais bela da tribo. O jovem rapidamente respondeu: “as provas do meu amor!”.

O pai da moça gostou da resposta, mas achou o jovem atrevido. O velho contou que o último pretendente prometeu ficar cinco dias de jejum, porém morreu no quarto dia. Jaebé desafiou: “ficarei nove dias em jejum e não morrerei”. Toda tribo ficou admirada com a coragem do jovem.

Jaebé foi enrolado em um pesado couro de anta e ficou dia e noite sob vigilância para que não fosse alimentado. A moça chorava e implorava à deusa Lua que o mantivesse vivo. O tempo passou e em uma manhã a filha pediu ao pai: “já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer”. Mas o pai relutou: “ele é arrogante, falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece”.

Quando a prova terminou, abriram o couro e o jovem saltou ligeiro. Seus olhos brilhavam e seu sorriso tinha uma luz mágica. Ninguém acreditou quando, ao ver sua amada, o jovem se pôs a cantar como um pássaro enquanto se transformava, aos poucos, em uma pequenina ave. E naquele momento a moça, tocada pelos raios do luar, também se transformou em pássaro. Ambos voaram e desapareceram pela floresta.

Características

O joão-de-barro possui o dorso inteiramente marrom avermelhado, tem uma suave sobrancelha, formada por penas mais claras, em leve contraste com o restante da plumagem da cabeça, e o queixo e pescoço brancos.

Sua alimentação inclui cupins, formigas, larvas e, ocasionalmente, sementes. Alimenta-se também de outros invertebrados, como minhocas e possivelmente moluscos.

Vive geralmente aos casais. Canta em dueto – macho e fêmea juntos, cada qual de um modo um pouco diferente – nos arredores do ninho, em postura altiva e tremulando as asas, com um canto extremamente estridente.

É um dos pássaros mais populares das regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste do Brasil. Está presente em áreas não florestadas, desde o sul até os estados de Goiás, Piauí e Alagoas. A espécie pode ser encontrada também na Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia.

O pássaro também é conhecido como barreiro, joão-barreiro (Rio Grande do Sul), maria-barreira (Bahia), forneiro, pedreiro, oleiro, hornero (Argentina) e amassa-barro. A fêmea é conhecida como joaninha-de-barro, maria-de-barro ou sabiazinho em certas regiões.

Fontes: Wikiaves e EBC