Espécie da vez

Toninha é a única espécie de pequeno cetáceo ameaçada de extinção no Brasil

Toninha é a única espécie de pequeno cetáceo ameaçada de extinção no Brasil

Há cerca de um milhão de anos a toninha habita nossos mares. Mas, hoje, é o golfinho mais ameaçado de todo Atlântico Sul Ociental. A captura acidental em redes de pesca é a principal ameaça à conservação da toninha, que, atualmente, é a única espécie de pequeno cetáceo ameaçada de extinção no Brasil, segundo a Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) também considera a espécie ameaçada, na categoria “vulnerável”.

A toninha pertence a uma linhagem antiga, surgida bem antes da maioria dos golfinhos. Ao contrário das outras espécies que pertencem à esta linhagem, que ocorrem em rios, a toninha usa as águas costeiras marinhas. Segundo o Projeto Toninhas, acredita-se que todas as espécies pertencentes a esta linhagem antiga ocupavam os ambientes marinho-costeiros e, com o surgimento dos golfinhos modernos, tenham gradualmente modificado seu hábito de vida, ocupando os sistemas fluviais.

As toninhas podem ser encontradas em regiões com até 50 m de profundidade, mas a maioria permanece em áreas com até 30 m. Elas vivem apenas na costa leste da América do Sul, entre o Espírito Santo, no Brasil, e o Golfo San Matias, na Argentina. Não é comum a ocorrência de toninhas em baías, estuários ou ambientes mais protegidos, com exceção da Baía da Babitonga, na costa de Santa Catarina.

Características

Bastante discretas, as toninhas não costumam saltar como a maioria dos golfinhos. Em geral, mostram apenas uma pequena parte do dorso quando sobem à superfície para respirar. Na maioria das vezes, o rostro surge primeiro durante a emersão.

Sua coloração pode variar entre tons de marrom, cinza e amarelo. A toninha é um animal pequeno que, assim como todos os cetáceos, tem o corpo adaptado para viver no ambiente aquático. Sua nadadeira dorsal é pequena e triangular e a nadadeira peitoral tem formato de espátula.

Apesar de serem muito semelhantes aos golfinhos, algumas características morfológicas da toninha a diferenciam. Seu rostro é acentuadamente longo e fino, com mais de 200 dentes.

As fêmeas podem chegar a 1,6 m de comprimento e são um pouco maiores que os machos, que chegam a 1,4 m. O peso varia de 33 kg para fêmeas e 27 kg para machos.

Os grupos tendem a ser pequenos, com dois a cinco indivíduos, mas é comum encontrar vários grupos próximos, ocupando a mesma área.

Alimentação

Na vida adulta, peixes e lulas são os principais alimentos das toninhas. Em geral, ela come peixes pequenos, com cerca de 10 centímetros de comprimento. A dieta da espécie varia ao longo de sua distribuição e dados indicam que a toninha se alimenta dos peixes mais abundantes de cada região.

Os filhotes podem se alimentar também de camarões, que são mais fáceis de capturar.

Reprodução

Ainda de acordo com o Projeto Toninhas, as fêmeas têm apenas um filhote a cada um ou dois anos e a gestação dura entre 11 e 12 meses. O pico de nascimentos ocorre na primavera, mas filhotes são avistados durante todo o ano em algumas regiões, como na Baia da Babitonga.

Os filhotes nascem com 70 a 80 cm de comprimento e mamam até os nove meses de vida, embora iniciem a ingestão de outros alimentos entre quatro e seis meses de idade. Ao longo deste período as mães ensinam como capturar peixes.

Estudos envolvendo a análise de órgãos reprodutivos indicam que a espécie pode ser monogâmica, ou seja, forma casais durante pelo menos uma estação reprodutiva.

Ameaças

Centenas de toninhas morrem afogadas todos os anos, principalmente em mar aberto, presas às redes de pesca de grande e pequenas embarcações, confirmando a queda no número desses cetáceos na costa sudeste e sul do país. Ao longo do litoral, as estimativas mais recentes, de 2014, realizadas a partir de sobrevoos de avião, pela equipe do Projeto Toninhas, no trecho entre Florianópolis e Chui, indicaram a existência de 9,5 mil animais. Há dez anos, nesta mesma região, havia cerca de 16,5 mil deles.

Os animais capturados nas redes de pesca morrem por afogamento e são, simplesmente, descartadas no mar. Sua inclusão no cardápio humano é proibida. As mortes ocorrem porque, sendo mamíferos que respiram por meio de pulmões, os animais se afogam quando se prendem às redes de emalhe, colocadas no mar para a captura de peixes.