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Espécie da vez

Andirá: peixe da região da Serra do Cipó, ameaçado de extinção

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Andirá: peixe da região da Serra do Cipó, ameaçado de extinção
Crédito: Marcos Michelin/EM/D.A Press

Com a fama de ladrão de iscas, o andirá (Henochilus wheatlandi) aparece na lista de espécies aquáticas ameaçada de extinção. Do pouco que se sabe sobre este peixe é que é um caracídeo de porte médio, medindo 35 cm, com hábitos herbívoros e possui serrilha de dentes superiores, bem evidentes pela ausência do lábio.

Dois espécimes foram coletados pela expedição exploratória Thayer, em 1865, indicando sua presença em Santa Clara, rio Mucuri (banha os estados de Minas Gerais e Bahia). Porém, todas as tentativas de coletá-lo na localidade indicada pela expedição foram em vão. O peixe era simplesmente desconhecido naquela região, fato, no mínimo curioso, para uma espécie desse porte.

Recentemente, o Henochilus wheatlandi foi redescoberto pelo biólogo e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, Fábio Vieira, e por colaboradores associados à Universidade Federal de Minas Gerais, mas não no Mucuri, e sim no rio Santo Antônio, que nasce na Serra do Cipó e desemboca na margem esquerda do rio Doce, onde é bem conhecido pelos pescadores locais. Os autores da redescoberta sugerem que membro da Expedição Thayer possa ter se enganado ao anotar a localidade de sua coleta.

Com redes e outros artefatos próprios da pesquisa científica, o biólogo coletou o andirá e outras espécies nativas no Alto Santo Antônio e afluentes ao longo de 16 anos (1989 a 2005). Mediu, comparou e analisou o alimento armazenado no intestino dos peixes. Deste trabalho, resultou a tese de doutorado defendida em 2006.

O estudo também concluiu que a ocorrência do andirá na bacia do Rio Santo Antônio é maior do que a conhecida até então pelos trabalhos científicos existentes e que o peixe é encontrado e capturado nos mais diversos ambientes: águas cristalinas, águas turvas, corredeiras, remansos e mesmo junto aos pontos de lançamento de efluentes domésticos.

O andirá e outras espécies do Leste Brasileiro, como o timburé (Leporinus thayeri), a pirapitinga (Brycon opalinus), a piabanha (Brycon devillei) e o surubim-do-Doce (Steindachneridion doceanum) são heróis da resistência. Sobrevivem, em população bastante reduzida, numa bacia agredida há décadas pela supressão de matas ciliares e das encostas pela pecuária extensiva. A erosão decorrente destrói, por assoreamento, os pedrais, como são conhecidos os extensos trechos cobertos de pedras, o ambiente preferido desses peixes.

Alto Santo Antônio: importância para conservação de peixes

Em sua segunda versão, em 2005, o “Biodiversidade em Minas Gerais: um Atlas para sua conservação”, listou o Alto Santo Antônio como área de importância ’Especial’, a mais alta de uma escala de cinco categorias. Apenas 13 áreas no estado receberam essa classificação. Destas, apenas quatro referem-se à conservação de peixes. Publicado pela primeira vez em 1998, o atlas é uma realização do governo do Estado em parceria com o Instituto Biodiversitas, Companhia Vale do Rio Doce, Ibama e Conservação Internacional. Uma deliberação do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) tornou o atlas à principal referência na política de conservação ambiental do estado.

Preocupação

O andirá foi colocado no centro de uma polêmica na comunidade científica internacional e tornou-se o principal entrave para a construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) na bacia do Rio Sto. Antônio. A razão é que alteração dos ambientes aquáticos pela construção produz grandes mudanças na biota de águas. Elas ocorrem principalmente porque as espécies sul-americanas estão adaptadas a rios com correntes rápidas, migrando para a reprodução.

Fontes:

http://www.vivaterra.org.br
http://www.biodiversityreporting.org
http://www.icmbio.gov.br
http://www.vejaandira.com.br
http://web2.sbg.org.br/congress
http://www.biodiversityreporting.org
http://www.ambientebrasil.com