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Entrevistas

Apaixonado por aves, morador de Brumadinho é um dos patrocinadores do Projeto Asas da Amda

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Apaixonado por aves, morador de Brumadinho é um dos patrocinadores do Projeto Asas da Amda
Celso Castilho

Morador de Brumadinho, em Minas Gerais, há mais de 30 anos e apaixonado por pássaros, Celso Castilho é um dos patrocinadores do Projeto Asas (Área de Soltura de Aves Silvestres) da Amda. Formado em economia, Castilho já foi Secretário de Meio Ambiente do Estado em 2000 e presidente da empresa Florestas Rio Doce, que atua na área ambiental, inclusive com recuperação de áreas degradadas. Com essa trajetória, não era de se estranhar que se envolvesse em outro projeto relacionado ao meio ambiente. Logo que conheceu o Asas, ficou encantado e tornou-se peça fundamental para a continuação da iniciativa.

O Projeto Asas é resultado de convênio para soltura de pássaros apreendidos pela Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em ações de combate ao tráfico e aprisionamento de animais silvestres. A iniciativa é fruto de parceria com proprietários de uma fazenda em Brumadinho, onde o projeto foi implantado em junho de 2012, em uma propriedade de cerca de 300 hectares com áreas de Mata Atlântica, Cerrado e Campos.

O projeto é de extrema importância para proteção das aves silvestres e também uma tentativa de conscientizar a população que, muitas vezes, alimenta o tráfico sem saber de suas graves consequências. Para propagar que lugar de ave é na natureza, em diversas ocasiões, o Asas leva alunos de escolas da região para acompanhar a soltura dos pássaros.

Papagaios-verdadeiros, trinca-ferros, canários-da-terra, saíras e sabiás são algumas espécies acolhidas pelo projeto que ganham asas novamente após sua passagem por ali. O trabalho desenvolvido com papagaios-verdadeiros, especificamente, apresenta algumas características de pioneirismo, pois existem poucos projetos de soltura dessa espécie com resultados satisfatórios, em decorrência de a mesma manter um grau de identificação e dependência muito grande com seres humanos, dificultando sua readaptação no meio ambiente natural.

Confira a entrevista:

Amda – A preocupação com respeito e proteção da fauna silvestre e animais domésticos tem crescido em diversos países. Denúncias e mobilização contra maus tratos a animais têm aumentado nas redes sociais e na imprensa. Mas, até pouco tempo atrás, isto era considerado secundário na esfera da luta ambiental. Em sua opinião, a que se deve esta mudança de postura da sociedade?

Celso Castilho – Certamente esta mudança de paradigma é fruto de trabalhos de esclarecimentos sobre a importância da fauna alada e terrestre, realizados principalmente pelas organizações não governamentais, como a Amda e outras (poucas). Nas residências, este assunto já é mais debatido, por influência das crianças, que recebem uma carga muito forte de informações nas escolas e nos próprios veículos de comunicação, que anteriormente não davam a importância que mereciam assuntos desta natureza. Vejo com muita satisfação esta mudança comportamental da sociedade, que hoje não vê o humano como o centro de tudo e mostra a importância das outras espécies.

Amda – O senhor avalia de forma positiva o envolvimento das comunidades da região de Casa Branca com o projeto Asas e o de reintrodução do papagaio verdadeiro?

C.C – Tenho residência em Brumadinho (Casa Branca) há mais de 30 anos. Desde muito cedo, aprendi a amar a natureza e os pássaros. Era muito comum ver no terreiro da minha casa trinca ferros, sabiás, assanhaços e outras espécies. Surpreendia-me ao não encontrar a presença de canarinhos da terra, chapinha, em uma região com a ocorrência de áreas verdes. Há algum tempo, visitei uma propriedade de um amigo que estava com reprodução do canário chapinha. Sua ideia era repovoar a região de Casa Branca e assim o fez. Como sou frequentador da Casa Caipira, tomei conhecimento do Projeto Asas, depois com mais detalhes com a Dalce [superintendente da Amda] e o Francisco [biólogo da Amda]. Encantei-me com o projeto e me propus a ajudar. O fiz e continuarei fazendo, entendendo a importância deste trabalho. Quanto ao envolvimento da comunidade de Casa Branca, carece, a meu ver, de uma maior divulgação do projeto. Não somente sobre a questão do apoio financeiro, mas de levar à comunidade a importância do projeto e o esclarecimento de que é preciso manter as aves, após a soltura, na natureza, conscientizando que não podemos mantê-las em gaiolas e aprisionadas.

Amda – A Amda o considera patrocinador e aliado desse projeto. Qual é sua motivação pessoal para o envolvimento com o mesmo? Quais as suas expectativas quanto ao projeto?

C.C – Parte das razões do patrocínio já expus acima. Não podemos deixar esta ideia morrer e quem sabe podemos trabalhar no sentido de que outras espécies possam também ser avaliadas e reintroduzidas na nossa região. Sou um entusiasta deste projeto.

Amda – O Projeto Asas é resultado de convênio para soltura de pássaros apreendidos pela Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em ações de combate ao tráfico e aprisionamento de animais silvestres. O senhor acha que o governo estadual tem realizado boa política no combate a este tráfico? Em caso negativo, o que o senhor acredita que deve ser modificado?

C.C – Entendo que este é um trabalho a ser compartilhado entre a sociedade civil e o poder público. Sei da importância da PMMA, mas certamente o Estado poderia ser maior protagonista no sentido de fazer convênios não somente com o Ibama, mas com prefeituras que estivessem realmente interessadas em acabar com o trafico de pássaros, novas organizações não governamentais que estivessem em condições de apresentar resultados, o que certamente proporcionaria um maior engajamento das pessoas. Não preciso dizer da importância do Ministério Público nesta questão tão importante quanto todas as outras em que vê a presença daquela entidade.

Amda – O senhor considera válida a luta pela proibição de venda de animais no Mercado Central de Belo Horizonte, devido às condições em que vivem?

C.C – Não somente no Mercado, que não oferece as condições adequadas para a comercialização, ou qualquer outro estabelecimento, que não leve em conta todo um trabalho de acompanhamento das condições em que estes animais são “aprisionados” e comercializados. Não existe fiscalização adequada, por parte do poder publico, e mais uma vez a sociedade é que procura amenizar o sofrimento dos pássaros e outros animais.

Amda – Que ações o senhor citaria como importantes para preservar os ambientes naturais que restaram em Brumadinho?

C.C – A região está com um índice de ocupação bastante exacerbado nos últimos anos, com a proliferação de condomínios. Entendo que o Estado pode e deve intervir no processo de licenciamento, além da preservação de áreas de florestas naturais destes condomínios, das medidas compensatórias e mitigadoras dos empreendimentos, avaliar projetos como o Asas, determinando que uma destas medidas sejam voltadas para a preservação de espécies (não como favor), mas como necessidade de compensar eventuais, “sempre existentes”, impactos na fauna alada.

Amda – Sob a perspectiva ambiental, como o senhor enxerga o futuro?

C.C – Ainda me preocupo muito com as informações sobre as áreas desmatadas no Estado e no Brasil. Parabenizo o que o Ministério do Meio Ambiente, através da ministra Izabella Teixeira, vem fazendo, principalmente na Amazônia. Temos de nos preocupar com os outros biomas, principalmente o Cerrado, uma vez que existem organizações que vem a muito tempo com trabalhos na Mata Atlântica. Tenho visto poucas ações efetivas no Cerrado Brasileiro. Se não cuidarmos das nossas matas, estaremos arruinando o futuro dos nossos recursos hídricos e a preservação das espécies.