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Entrevistas

Confira entrevista com o professor Gerê que fala de sua experiência como educador e acerca do papel da escola e família na educação ambiental

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Confira entrevista com o professor Gerê que fala de sua experiência como educador e acerca do papel da escola e família na educação ambiental
Gerê em meio aos alunos do colégio Pio XII em Araxá

“Se o que esperamos da pesquisa científica é sua contribuição social, essa investigação cumpriu plenamente o seu papel – transformou, emancipou”. Essas palavras são da professora, doutora e orientadora Valeria de Oliveira Vasconcelos, referindo-se à tese de Mestrado Acadêmico em Educação do instrutor ambiental Antônio Geraldo Alves Ribeiro, concluída em 2012 na Universidade de Uberaba.

A contribuição do mestrado de Gerê, como todos o conhecem, intitulado Concepções sobre Educação Ambiental e as Contribuições da Educação Popular, foi tamanha para a educação que a banca julgadora recomendou sua publicação em forma de artigos ou livro.

Há 22 anos, Gerê é Educador Ambiental da Vale Fertilizantes no Complexo Mineroquímico de Araxá. Além disso, leciona no Centro Universitário do Planalto de Araxá (Uniaraxá). Tantos anos de experiência como educador levaram sua orientadora ao questionamento acerca de sua real intensão quanto ao mestrado: “meus preconceitos vieram à tona, pensei comigo que o candidato não queria aprender nada, mas sim reforçar o que já sabia”. Porém, as primeiras impressões de Vasconcelos foram se dissipando a medida que ela testemunhava que a abertura ao novo, interesse em aprender e entusiasmo eram marcantes na vida daquele “homem que se entende inconcluso”.

Amda – Você citou que iniciou seu mestrado como educador ambiental e o terminou como educador ambiental popular. Por que e quais mudanças sua pesquisa científica trouxe para sua carreira? Qual a razão da escolha do tema do mestrado?

Gerê Inicialmente, o tema do mestrado seria uma pesquisa para saber se as escolas de Araxá-MG são sustentáveis ou não. Depois, passamos para a linha de pesquisa-ação – implantando um projeto de educação ambiental em uma escola, a partir do diálogo com professores, funcionários, alunos e comunidade do entorno. As ideias foram amadurecendo até que minha orientadora, que é educadora popular, sugeriu que fosse feita uma pesquisa para ver como estava a Educação Ambiental nas escolas de Araxá e como a Educação Popular poderia contribuir em seus resultados. A atividade foi tão marcante que me considero e atuo como um Educador Ambiental Popular. Com as premissas da Educação Popular, muitas mudanças ainda estão ocorrendo na minha vida e no meu trabalho. Aprendi a escutar mais, conhecer melhor o público com quem trabalho e, a partir daí, fazer com que ele conquiste sua autonomia e participe ativamente da vida da comunidade.

Amda – Em sua opinião, nos dias atuais, qual o grande erro comportamental do ser humano quanto ao meio ambiente?

G – Minha opinião é que grande parte dos problemas ambientais estão relacionados ao consumo. A tônica da sociedade moderna é adquirir bens e, pior, trocá-los anualmente. Consumimos demais e nunca estamos satisfeitos com o que temos. Sempre queremos mais. E o Planeta Terra, com mais de sete bilhões de pessoas não tem capacidade de atender a todos se continuarmos a pensar e agir desta forma.

Amda – Você é a favor da adoção de medidas por parte dos governos mundiais para redução da população para minimizar os impactos ambientais?

G – Segundo Braga et al (2006), o equilíbrio entre três elementos – população, recursos naturais e poluição – dependerá o nível de qualidade de vida no planeta. O crescimento da população já apresenta um forte impacto na vida do planeta e poderá ficar mais grave ainda para as futuras gerações. Então a estabilidade da população mundial é necessária. O importante é a forma de como ela será feita.

Amda – Como professor, o que você procura passar para seus alunos para que sejam cidadãos mais conscientes?

G – Alguns autores criticam o “pensar globalmente, agir localmente”. Mas eu acredito que esta é uma boa maneira de começar “a” mudança. Se cada cidadão for capaz de cuidar do local onde vive e mora estaremos dando um grande salto para a qualidade da vida das futuras gerações.

Amda – Você acha que a somatória Educação Popular (EP) + Educação Ambiental (EA) funciona para todas as camadas da sociedade?

G – Acredito que funcione para todas as camadas. E principalmente para aqueles que nunca ouviram falar de preservação ambiental esta somatória é fundamental. Na EP a primeira coisa que aprendemos é escutar. E isto é muito difícil para a maioria de nós, educadores. Escutar o aluno. Conhecer sua história. Como vou falar sobre consumo para um público que não tem suas necessidades básicas atendidas? Para saber do que vamos tratar com o nosso público precisamos conhecer sua realidade.

Uma experiência ocorrida em outubro de 2012 é um bom exemplo do que estamos falando. Estava naquele momento realizando uma atividade de Educação Ambiental Popular. Ao chegar numa escola, para realizar a atividade com os alunos, retirei as carteiras e encostei-as na parede da sala. Formei um círculo, baseado no que Paulo Freire denominou de “circulo de cultura” e iniciei um diálogo com os alunos onde procurei saber os seus nomes e conhecer um pouco de sua história. Após um produtivo diálogo, fiquei conhecendo um pouco mais dos meus alunos e iniciei a atividade. No final, uma aluna do 9º ano me entregou um papel onde estava escrito: “Olha, adorei sua aula. Nunca, até hoje, alguém quis saber como é minha vida. E nunca tive a oportunidade de contar quem eu sou e como vivo. Estou feliz por ter tido esta oportunidade. Foi bom demais”. Este resultado só foi possível após conhecer a EP. E me desculpem: foi um momento maravilhoso, não tem preço.

Amda – Quais iniciativas simples poderiam tornar a escola mais responsável do ponto de vista ambiental?

G – Os alunos precisam cuidar da escola como cuidam de suas casas. Evitando o desperdício de água, energia elétrica e alimentos. Mantendo a escola limpa. Separando o lixo reciclável do não reciclável. Discutindo e debatendo sobre os temas ambientais. Participando do dia-a-dia de sua comunidade. Meio ambiente deve ser trabalhado e discutido nas reuniões de pais e mestres. Palestras devem ser frequentes durante todo o ano letivo. E os professores precisam implantar projetos de EA sobre os temas de interesse daquela comunidade.

Amda – O professor é o principal responsável pela Educação Ambiental?

G – Não só o professor. Toda comunidade escolar: diretores, coordenadores, funcionários e os pais dos alunos. A participação de todos é fundamental para um resultado de qualidade. O professor pode coordenar a atividade, mas o resultado depende de todos os setores da comunidade.

Amda – Qual a responsabilidade dos pais na Educação Ambiental?

G – É preciso que os cuidados e as ações comecem em casa. Os filhos são o espelho dos pais. Temos que dar exemplos. Se a educação começa em casa, isto facilita o trabalho da escola. Como? Praticando os valores essenciais a nossa formação: respeito, amor, solidariedade, honestidade. Depois, ficando atento no consumo de água e energia elétrica. Evitando o desperdício de alimentos nas refeições e lanches. Cuidando do lixo gerado. Mantendo os quintais limpos. Se cada um cuidar de seu pedaço vamos ter um lugar com boa qualidade para viver.

Amda – Como trabalhar a Educação Ambiental nas áreas mais carentes, principalmente as que estão no entorno de áreas de proteção, nas quais são comuns incêndios florestais?

G – As áreas verdes urbanas são locais onde pode ocorrer esta situação. Fazer com que a comunidade do entorno conheça estes lugares é um primeiro e importante passo para evitar a ocorrência dos incêndios. Depois, mostrar a importância destas áreas na qualidade de vida da comunidade, afinal ela interfere no clima local, na umidade do ar e também dão um colorido especial para a cidade. Acredito que o mesmo pode ser feito com as comunidades que moram próximas da cidade. O importante é informar, ampliar o conhecimento do cidadão e mostrar que eles podem atuar na prevenção de incêndios e que isto é importante para qualidade de vida de todos.

Amda – Embora a conscientização ecológica esteja aumentando no mundo, acredita-se que a ação concreta é ainda muito pequena e lenta. Você concorda?

G – Concordo. Enquanto avançamos com o nosso trabalho, novos desafios aparecem. Novos produtos, maior consumo. Mais pessoas que podem adquirir determinado bem. Como dizer para quem nunca teve um carro que o ideal é ele não comprar? Ou dizer: compre uma bicicleta. Elas poluem menos e são o meio de transporte do futuro. Não é tão simples assim. Precisamos mais e, pode ter certeza, cada dia serão maiores as dificuldades e mais importante será fazer Educação Ambiental.

Conheça um pouco mais sobre o professor

Formado em Zootecnia, em 1987 ele começou dar aulas de Ciências para turmas de 8ª série. Segundo Gerê, não foi fácil, mas isto mudou sua vida, pois adorou a experiência de ser professor. Quatro anos mais tarde essa paixão traria resultados positivos para o meio ambiente, pois tornou-se Educador Ambiental, no Centro de Educação Ambiental (CEA) %u2013 o primeiro a ser implantado no Brasil por uma empresa.

Em 2004, iniciou sua carreira de professor no Centro Universitário do Planalto de Araxá (Uniaraxá), onde foi convidado a ministrar aulas de Educação Ambiental. Gerê tem duas pós-graduações: Educação Ambiental (1998) e Gestão Ambiental e Biodiversidade (2007).