Entrevistas

Em defesa dos animais

Em defesa dos animais

O educador Paulo Renato Rabelo de Freitas, de 29 anos, diz que desde pequeno se engajou na causa de defesa e proteção dos animais. Um dos coordenadores do Movimento Mineiro de Defesa dos Animais, ele trabalha em projetos para tentar acabar com o que chama de “Cerro cultural que está enraizado na sociedade”.

Como se engajou na causa de proteção e defesa dos animais?

Trabalho dando aulas em oficinas sobre direitos dos animais, para crianças de cinco a 17 anos e também vendo alimentos veganos, que são livres de sofrimento e de derivados de animais. Na verdade, o Movimento pela Libertação Animal veio muito antes. Só que quando eu falava que não precisamos comer carne, leite, queijos e ovos, as pessoas sempre me perguntavam: “Mas, o que comer?” Então, fui pesquisar e comecei a criar vários pratos. Hoje, faço desde lasanhas, pizzas, coxinhas e quibes, até bife e churrasco 100% vegetais e com gosto quase idêntico à carne ou os queijos animais. Eu quis dar opção às pessoas que tanto reclamavam e acabei trabalhando com isso.

Quando surgiu o Movimento Mineiro de Defesa dos Animais?

O MMDA surgiu com um pedido de uma amiga, a Graça, para que eu criasse uma camisa sobre a questão dos animais em circos em BH. Então criei uma logomarca que ficou famosa (um tigre dentro do triângulo da bandeira de Minas Gerais). Durante o projeto de lei que tramitou na Câmara Municipal, usamos esse nome, pois é a junção de várias ONGs, coletivos e pessoas interessadas na mesma solução: justiça para nossos irmãos animais. O Movimento existe há mais ou menos um ano, mas parece que “pegou e vai continuar a incomodar muito os exploradores.

Qual é o trabalho realizado?

Protestos, educação de jovens e crianças, produção de material informativo, conscientização. São pessoas de grupos diferentes unidas nesse movimento, que atua em causas específicas.

Quais as principais bandeiras do movimento?

Libertação animal, vegetarianismo, veganismo, paz. É em si um movimento pela justiça. Para elevar o status moral dos animais em nossa sociedade. Não cabe mais denominar alguém que sente, como uma “coisa”, e mais e mais pessoas estão se abrindo para isso. Não precisamos amar os animais, precisamos respeitar. Assim como no passado um abolicionista não precisava amar ou achar um negro fofinho para lutar por sua libertação. É uma luta por direitos sociais.

Explique o que é o veganismo e o vegetarianismo.

Vegetarianismo é o não consumo de nenhum tipo de corpo (carne) de animais. O vegetarianismo ainda abre brechas para o consumo de leite, ovos e queijos e não necessariamente é uma opção pelos animais. Pode ser também por saúde, meio ambiente, etc. O vegetarianismo muitas vezes é um passo ao veganismo, que é, essencialmente, uma postura pelos direitos animais. Na prática, é a abolição da escravidão animal. O vegano não consome derivados de animais como carnes, leite, ovos e queijo e não usa couro, lã e produtos testados através de experimentos com animais. Muitos ainda denominam isso como a ausência de derivados animais, o que é impossível, visto que eles podem estar em várias fontes e etapas da produção. Afinal, nossa sociedade se ergueu em cima da exploração desses inocentes. Para mim, veganismo é um esforço pessoal pelo fim da escravidão animal. Não queremos ser “puros”, mas fazemos nossa parte para um dia isso tudo ter fim.

O presidente do Mercado Central de Belo Horizonte rechaçou todas as denúncias feitas pelo MMDA. Pra você, qual é a real situação dos animais comercializados naquele local?

O senhor Macoud é um empresário da escravidão. Nós, ativistas pelos direitos animais, lutamos gratuita e voluntariamente pela justiça e ética. Ele luta por dinheiro, nada mais que interesses comerciais. Como qualquer outro mercador de escravos no passado, iria com unhas e dentes se basear em argumentos infantis e fúteis. Hoje, ele os usa para garantir seu sustento baseado também na exploração de animais. Ele escancarou sua infantilidade na audiência pública sobre o projeto de lei contra os animais no Mercado Central ao afirmar que galinhas e cães vivem em bandos, tentando justificar as fotos tiradas dentro do mercado com animais empilhados. Outra desculpa que utilizou é a de que animais vivem e morrem de maneira pior nas fazendas de carne e leite, ou seja, “se existem animais sofrendo, por que não podemos também?”. Essa é a linha argumentativa deles. Dizer que aquilo é tradicional, como se tradição ou cultura justificasse a continuidade de atos bárbaros. É fato que animais sofrem toda forma de abuso nas dependências do Mercado Central. Só o fato de colocar um preço na vida de alguém é monstruoso. Da mesma forma que o senhor Macoud não gostaria de ser estuprado, mesmo o abusador utilizando uma anestesia, para nós não importa se as jaulas são grandes e espaçosas. Queremos jaulas vazias.

O senhor Macoud Patrocínio, presidente do Mercado Central, chamou o movimento de “ecoterrorista” por exagerar em algumas manifestações, como uso de imagens fortes.

É um clichê tão apelativo que acho engraçado (risos). Terrorista é quem impõe o terror a alguém. Olhe nos olhos dos animais no Mercado Central e sinta quem está aterrorizado. Sinta o medo e a falta de esperança naqueles olhares. Quem prega e usa o terror contra vítimas que não podem se defender é ele e todos aqueles que vivem da exploração da vida, da escravidão desses inocentes, que não cometeram crime algum e, mesmo assim, estão dentro de gaiolas e jaulas.

Quando disse o uso de imagens fortes, me referi a uma manifestação que vocês fizeram em frente à churrascaria Baby Beef, quando se vestiram com avental e passaram tinta vermelha pelo corpo, além de uso de montagem de fotos, como a de um bebê, recém- nascido, dentro de um prato com talheres ao lado. Isso não foi apelativo?

A do Baby Beef foi simplesmente o que é o “baby beef” (carne de bebê). Não tem como