Observação de aves proporciona conscientização e preservação ambiental
O Brasil é conhecido mundialmente pela riqueza de sua biodiversidade. A avifauna brasileira ocupa o segundo lugar no ranking com 1832 espécies, conforme dados do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), ficando somente atrás da Colômbia que possui 1885. Apenas em Minas Gerais, são encontrados mais de 800 tipos de aves, dos quais 350 sobrevoam o município de Belo Horizonte, privilegiado por seus 70 parques.
Gustavo Pedersoli, um dos fundadores e recém-eleito presidente da ONG Ecoavis (Ecologia e Observação de Aves), faz parte de um seleto grupo que batalha para a preservação destes animais.
Biólogo e ornitólogo (ramo da biologia que se dedica ao estudo das aves), no dia 29 de novembro, assumiu a presidência da entidade que, há quatro anos, proporciona, através da prática de observação de pássaros, aproximação de seus seguidores com a natureza. Uma vez por mês, o grupo, que hoje conta com mais de 300 associados, reúne-se para fotografar e apreciar as espécies da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Tais aventuras proporcionam aos observadores tornarem-se fiscais ambientais, pois, no desejo de fotografar e apreciar as aves, acabam zelando pelo meio ambiente natural.
Representando a Ecoavis, Pedersoli, juntamente com a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) reuniu-se, em dezembro, com a Promotora de Justiça de Defesa do meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, Lilian Marotta. No encontro, foi discutido o projeto de revitalização da Lagoa da Pampulha, a ser escolhido por meio de concurso, e que deve ser concluído até a Copa do Mundo em 2014. Serão investidos R$ 240 milhões em obras. Os ambientalistas, que não são contra o projeto, alegam que não fora realizado, pela prefeitura, estudo de impacto ambiental ou do conteúdo das diretrizes de proteção ao patrimônio cultural e ambiental fixadas pelo referido concurso.
De acordo com estudo realizado pela entidade de Gustavo, foram contabilizadas 195 espécies de aves no entorno da lagoa. A promotora solicitou às ONGs que apresentem os estudos existentes sobre a fauna que habita o local. Marotta ainda informou que questionaria elaboração de termo de referência ambiental para o concurso junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o de Minas Gerais (IPHAN e IEPHA respectivamente), Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM) e para o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam).
Em entrevista a Amda, Pedersoli fala um pouco sobre a atuação da Ecoavis e o projeto de revitalização da Lagoa da Pampulha.
Amda – O que significa para você ser presidente da Ecoavis?
Gustavo Pedersoli – É bastante especial para mim, tendo em vista que sou um dos membros fundadores da instituição e tive a oportunidade de acompanhar de perto a concretização desse grande sonho, quando da sua fundação, e de poder colaborar ativamente com a ONG, desde aquela época, até os recentes tempos áureos em que estamos. Em sua trajetória, a Ecoavis ganhou renome e se tornou referência, cada vez mais respeitada, no cenário ambiental, em decorrência de suas ações de defesa, preservação e conservação do meio ambiente, estimulando a prática da observação de aves e incentivando sua inclusão na cultura da população como instrumento de difusão de conhecimento e conservação da natureza. É muito honroso para mim, fazer parte dessa história vitoriosa!
Amda – Quais os projetos da ONG para 2013?
GP- A Ecoavis segue em pleno vapor. Além dos vários projetos que já estamos engajados, fruto das nossas lutas e parcerias, cito como exemplo o Movimento Pro Parque Lagoa Seca, Projeto Avistavis nos parques de BH, apoio ao Movimento pela criação do Parque Nacional Serra do Gandarela, campanha em defesa da Reserva de Fechos, Movimento Minas Livres de Gaiolas, Campanhas em prol da Serra da Calçada e pela proteção da Serra da Moeda, Palestras Educativas de Observação de Aves, entre outros. Temos várias outras ações pelas quais vamos batalhar muito, como o Movimento de Melhoria, Valorização e Proteção a Lagoa da Pampulha, em ação conjunta com a Amda; a concretização do Projeto Avistar Brasil-BH, que ocorre anualmente em São Paulo e terá, pela primeira vez, em julho deste ano, uma edição em Belo Horizonte, fruto de uma parceria da Ecoavis com a organização geral do evento. Também temos a elaboração do Guia da Aves do Parque Serra do Curral, em parceria com a Fundação de Parques de BH, e organização de diversas expedições para observações de aves no estado de Minas Gerais, como na Serra do Cipó, Parque Estadual do Rio Doce, rio Pandeiros e Cavernas do Peruaçu, etc.
Amda – Para aqueles interessados em participar, como funciona o projeto da Ecoavis o Avistavis?
GP- É uma parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação de Parques da capital e aberto ao público. Gratuitamente, qualquer pessoa pode participar independente da profissão e idade. Toda primeira semana do mês, reunimos em algum parque da RMBH para observar a avifauna. Vale lembrar que os encontros acontecem cedo, pela manhã, para que consigamos pegar o pico de atividade das aves. Não é necessário ter equipamento algum, mas muitos gostam de levar máquinas fotográficas, binóculos e até mesmo gravador. A observação de aves é considerada uma atividade ecoturística, pois trabalha na conscientização das pessoas.
Amda – Quantas espécies habitam o entorno da Lagoa da Pampulha?
GP – As várias bibliografias existentes para a região da Pampulha, somadas às listas recentes de aves observadas no local pela Ecoavis, indicam que exista aproximadamente 195 espécies para o local, um número bastante expressivo para um ambiente localizado em uma matriz urbana da cidade. O recém publicado livro “pássaros poemas – aves na Pampulha” do cantor, compositor e membro da Ecoavis, Tavinho Moura, retratou, com fotos e belos poemas, 150 espécies desse total. Habitam a área espécies, como Irerê (Dendrocygna viduata), Biguatinga (Anhinga anhinga), Socozinho (Butorides striata), maçarico-solitário (Tringa solitaria), jaçanã (Jacana jacana).
Amda – Como os impactos do projeto de Revitalização da Pampulha, sobre a fauna local, podem ser minimizado?
GP– O pretendido projeto que prevê um conjunto de ações, dentre as quais o desassoreamento da lagoa, nos preocupa pelo fato de que os bancos de areia localizados em alguns pontos da lagoa, associados à vegetação marginal ao seu redor, formam ambientes extremamente propícios para a permanência da grande maioria das aves aquáticas que habitam o local, pois oferecem condições para a alimentação e reprodução dessas aves, ao passo que se forem retirados, todas as aves aquáticas associadas (como patos, marrecos, mergulhões, socós, garças, colhereiros, sanãs, saracuras, frango d’água, maçaricos e jaçanãs) serão diretamente prejudicadas. O que propomos é um projeto equilibrado, que atenda aos objetivos da revitalização, sem comprometer a ecologia e a permanência das aves no local.
Mais informações sobre os trabalhos da Ecoavis podem ser encontradas no site da entidade.