Entrevistas

Por que os Reis do Butão andam de Bicicleta?

Por que os Reis do Butão andam de Bicicleta?

O editor Madhu Suri Prakash, colaborador da YES! Magazine, certa vez participou de um encontro de educadores de todo o mundo, convocada pelo governo do Butão, para incentivá-los “a fazer a felicidade de todos os homens” , princípio central da filosofia de educação do Reino. Em setembro de 2010, o primeiro-ministro do Butão Jigmi Y. Thinley visitou os Estados Unidos para promover o FIB na educação e na teoria econômica. Nesta ocasião, concedeu a Madhu, a maior honra que um aluno poderia ter, uma entrevista exclusiva, na Universidade Estadual da Pensilvânia. Confira abaixo:

Madhu Suri Prakash – Há dez meses, o Sr. congratulou-se com educadores de diferentes continentes para promover a felicidade de seu povo e difundir a ideia de Felicidade Nacional Bruta para outras nações. Que tipo de ajuda o Butão precisa para alcançar suas aspirações?

Primeiro-ministro Thinley – Eu não acho que seja por meio de apoio material. O Butão e o mundo estão precisando de muito, especialmente no que diz respeito ao exercício da FIB. Mas a percepção de fora é positiva e o apoio moral está fazendo o povo do Butão sentir que estamos no caminho certo. Sinto-me encorajado pelo crescente interesse nesta filosofia de desenvolvimento, ou paradigma de desenvolvimento alternativo, é impressionante como, cada vez mais, as pessoas se aproximam para vê-lo.

Prakash – Que diferença tem feito ter o FIB como critério de desenvolvimento e não o Produto Interno Bruto?

Thinley – Do ponto de vista do governo, o Butão se comprometeu nesta busca através de quatro grandes estratégias, ou indicadores. Em primeiro lugar, estamos promovendo o desenvolvimento sustentável e socioeconômico de forma equilibrada, o que pode ser medido através de métricas convencionais.

Em segundo lugar está a preservação ecológica, com indicadores de desempenho tais como a expansão da cobertura vegetal do país de menos de 60 para mais de 72% nos últimos 25 anos. Os esforços muito conscientes e as intervenções do programa garantem que no Butão não haja perda de biodiversidade. Nós estamos envolvidos na tomada de consciência e na tentativa de promover a reorientação das políticas, especialmente no que diz respeito à luta contra a mudança climática. E é pelos esforços nesse sentido que o Butão se prepara para receber, em algum momento do início do próximo ano, uma cúpula de países para um encontro sobre a mudança climática.

A terceira estratégia é a promoção da cultura, que inclui a preservação dos diferentes aspectos da nossa produção cultural local, que continuam relevantes e dão suporte ao Butão como uma civilização humana. Entre as várias coisas que podemos fazer é garantir que, mesmo sendo um reino pequeno em extensão, não precisemos sofrer de insegurança pela perda de nossa identidade cultural, língua, e assim por diante, sob a ameaça da modernização.

Depois, há a quarta estratégia, que é a Boa Governança, da qual as outras três dependem. Sabemos que a democracia é a melhor forma de organização que há. Democracia é o que permite e autoriza cada indivíduo não apenas expressar seu ponto de vista, mas dá o poder de determinar que tipo de pessoas devem conduzir e como essas pessoas devem ser responsabilizadas. Desde que o meu governo foi eleito, temos nos dedicado a tentar promover uma “cultura do hoje”, democrática, onde os butaneses têm um sentido apreciável de orgulho e dignidade de si, o que é fundamental para felicidade.

Os valores familiares e a vitalidade da comunidade são coisas que estamos promovendo de uma forma muito consciente. Temos esperança de que, ao contrário de muitas das sociedades desenvolvidas, industrializadas e urbanizadas, o Butão terá sempre o benefício da rede de segurança social, na forma da “rede da família estendida”. Existem várias maneiras pelas quais nós podemos fazer isso acontecer, por exemplo, festas religiosas, festas tradicionais, e festas sociais, que servem à comunidade. É possível ver a participação de várias gerações de famílias nessas atividades de vínculo social. Em oposição ao estado de bem-estar apoiada em sistemas artificiais e insustentáveis que se tenta escorar.

P – Em seu discurso de boas vindas em dezembro, o Sr. ressaltou uma perda de convívio na capital do reino, Thimphu. As pessoas estavam circulando e falando menos devido a influências estrangeiras. Como o Butão reduz influências externas nocivas, sem se isolar do mundo?

T – Bem, isso teria sido mais fácil no passado, mas em uma democracia como o que estamos agora, é mais difícil. Para controlar estas coisas através de leis, regras e processos de regulação é quase impossível. Então o que estamos tentando fazer é advogar. Isso tem que ser feito não só através da fala, mas através da ação. Eu estou muito feliz de dizer que os nossos dois reis, o quarto rei que agora está em reforma, e o atual rei que se assenta no trono, começaram a andar de bicicleta. Estou tentando levantar as formas e meios para tornar mais fácil a compra da bicicleta. Um negócio que está indo muito bem, especialmente nos últimos quatro ou cinco meses é comercializar bicicletas. A ideia é fazer com que o Butão assuma uma cultura da ir e vir em duas rodas, apoiado por um sistema de transporte público. Estamos no processo de tornar mais caro a condução de veículos particulares.

P – O que você sugere para a promoção da FIB nos Estados Unidos?

T – Esta é uma sociedade livre em que liberdade de opinião é muito valorizada. Apenas me parece que as pessoas se recusam a falar sobre a busca do que mais importa para eles como indivíduos, como comunidade e como sociedade, que é a felicidade. Alguém tem que iniciá-lo e eu estou feliz que existam algumas pessoas que já estão fazendo isso. Espero que eles ouçam, pensem e falem mais o que eles têm em suas mentes, ao invés de ter medo, porque é pouco convencional para eles, falar sobre a felicidade.

P – FIB foi prontamente aceito no Butão, incluindo a comunidade de negócios?

T – Eu não usaria o termo “aceitação:, porque o FIB sempre foi uma forma de vida no Butão e continua sendo. No início foi mais no nível subconsciente, intuitivo, e agora estamos promovendo no nível consciente, especialmente devido a “ameaça” de modernização e desenvolvimento. Isso que estamos fazendo, através da exposição das nossas ideias na mídia, por exemplo, é o começo da promoção dos valores FIB, através da discussão pública.


Fonte e foto: site As Boas Novas