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Usina de Belo Monte ameaça peixes do rio Xingu

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Usina de Belo Monte ameaça peixes do rio Xingu
Acari zebra (Hypancistrus zebra)

A construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu pode extinguir peixes endêmicos da bacia do rio Amazonas, segundo alerta de um grupo de pesquisadores em estudo publicado na revista Biological Conservation. Com a instalação das represas, o rio terá seu ciclo hidrológico totalmente alterado e pode se tornar impróprio para uma gama de espécies.

Belo Monte está sendo construída na bacia com maior biodiversidade aquática do planeta. Ao todo são 2.411 espécies distribuídas por seus afluentes, sendo 1.089 endêmicas. Só no Xingu, existem 63 espécies que não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo.

Segundo o estudo, as barragens são consideradas uma das maiores ameaças à fauna e flora dos rios. A parte mais afetada pela usina será a Volta Grande do Xingu, extensão de 130 quilômetros de corredeiras e quedas d’água e habitat de pelo menos 26 peixes endêmicos. A água de Volta Grande será desviada por canais artificiais, modificando toda a dinâmica aquática do local.

De acordo com os pesquisadores, há três porções do rio que terão suas características completamente alteradas: a porção acima da barragem de desvio, a seção intermediária e a porção rio abaixo em relação à casa de força.

Na seção rio acima, a velocidade da correnteza será reduzida e, consequentemente, haverá grande inundação no local. Isso causará aumento na sedimentação, transformando o substrato rochoso da região. A seção intermediária sofrerá com considerável diminuição do fluxo de água; o que pode provocar redução no habitat disponível e aumentar a temperatura da água, diminuindo também os níveis de oxigênio.

Já a seção rio abaixo sofrerá com grande alteração nos fluxos de água, pois dependerá da descarga que receberá da usina. O fluxo advindo da casa de força pode aumentar os riscos de erosão, interferindo na qualidade do meio aquoso. Ademais, a baixa qualidade da água proveniente do reservatório pode favorecer mudanças na temperatura e na dissolução de oxigênio.

Para os pesquisadores, Belo Monte provocará mudanças no ciclo natural de cheias e secas do Xingu, de maneira que a água não será suficiente para manter a nutrição da vegetação, e nem mesmo para preservar as áreas inundadas – essenciais para reprodução de algumas espécies. Estima-se que a redução de até 80% do fluxo de água inviabilize a manutenção da fauna e flora local.

O grupo destaca ainda que algumas espécies locais já estão ameaçadas de extinção, como o acari-zebra (Hypancistrus zebra) e o pacu-capivara (Ossubtus xinguense). O primeiro, um tipo de cascudo, sofre com o tráfico de animais e acredita-se que ele já esteja extinto em determinados trechos. Alguns especialistas temem que no próximo ano, quando todas as turbinas entrarem em operação, a espécie desapareça.

Conservação

Ao estudar o comportamento dos peixes da região antes e depois de Belo Monte, os pesquisadores observaram que “a maioria das espécies consideradas altamente dependentes das corredeiras – muitas delas ameaçadas de extinção – ou se restringiram ou ficaram bem mais abundantes nas seções rio acima e intermediária”.

Por esse motivo, a seção intermediária da Volta Grande é vital para a conservação da fauna aquática diversa e endêmica do lugar. Para os pesquisadores, é urgente que se façam pesquisas que aliem a produção de energia com a preservação da biodiversidade.